Quais são os principais cuidados no armazenamento de cargas perigosas?

O segmento logístico lida com uma ampla variedade de cargas e produtos que requerem condições especiais para a sua movimentação. Um desses casos é o armazenamento de cargas perigosas no ambiente da transportadora. Ele exige o cumprimento regulamentos e ações de prevenção para que não ocorram inconvenientes.

Embora essa alocação seja temporária, antes de prosseguir com a entrega, é importante garantir que há locais e equipamentos adequados para evitar vazamentos e acidentes. Essa é uma medida preventiva que afeta todos os elos da cadeia de suprimentos, principalmente os funcionários, além de proteger o meio ambiente.

Por esse motivo, é importante entender o assunto e preparar a sua operação para esse tipo de carga. Neste post, vamos explicar a você o conceito de produtos perigosos, quais são seus tipos e riscos, além de como fazer a prevenção e armazenagem correta. Também apresentamos as boas práticas que devem ser adotadas pelos profissionais que lidam com resíduos perigosos. Confira!

Conceito de produtos ou resíduos perigosos

De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), os produtos que se enquadram na categoria perigosa são aqueles cuja composição contém substâncias nocivas ao meio ambiente, à população e a seus bens. Além disso, na legislação brasileira existem diversas leis e resoluções que determinam quais são as regras referentes:

• à fabricação;
• à armazenagem;
• ao transporte;
• ao descarte desses resíduos.

Porém, o foco deste artigo permanece ligado às etapas de armazenagem e transporte de cargas perigosas. Elas merecem atenção, uma vez que a área de transporte rodoviário representa um gargalo para o setor, devido ao número elevado de acidentes que resultam no vazamento de produtos perigosos para o meio ambiente.

Por isso, cada vez mais, as transportadoras têm se tornado alvo de fiscalização, a fim de prevenir os potenciais danos à natureza e à saúde pública. Nesse ponto, é importante avaliar não apenas a circulação de cargas pelas rodovias, como também o seu processo anterior: a movimentação e o armazenamento dos produtos pela transportadora.

Tipos de cargas perigosas

A classificação de produtos perigosos é uma atividade complexa por causa do amplo número de elementos e substâncias que podem ser considerados danosos. Imagine, por exemplo, o caso do oxigênio. Ele é um elemento essencial à vida e encontrado abundantemente na natureza. Por outro lado, grandes concentrações de oxigênio tornam o gás instável e extremamente inflamável.

Dessa forma, a classificação depende fortemente das características físicas, químicas e toxicológicas dessas substâncias. Aliás, existem diversos códigos adotados para a representação de cada carga perigosa. Esse tipo de marcação é afixado em embalagens, contêineres e caminhões para sinalizar o tipo de material e os riscos que representam. A sua categorização pode ser dividida em:

• gases;
• explosivos;
• material radioativo;
• substâncias corrosivas;
• líquidos e sólidos inflamáveis;
• substâncias e artigos perigosos diversos;
• substâncias oxidantes e peróxidos orgânicos;
• substâncias tóxicas e substâncias infectantes.

Riscos de armazenamento dessas cargas

Já comentamos que acidentes com produtos perigosos são prejudiciais ao meio ambiente e à saúde da população. Porém, em se tratando do local de espera do transporte desses resíduos em uma transportadora, os riscos assumem nova gravidade. Afinal, existem outros tipos de materiais estocados no mesmo ambiente, como veículos e equipamentos.

Mas, principalmente, existe a equipe de armazém que tem de conviver e lidar com essas substâncias. Por essa razão, para tornar o local de trabalho mais seguro, é fundamental identificar a quais riscos a empresa pode estar sujeita, de acordo com a natureza do item.

O primeiro passo desse processo é reconhecer que todas as cargas perigosas apresentam algum tipo de risco, já que podem causar intoxicação por meio inalação, absorção por contato com a pele e ingestão. Veja, a seguir, os riscos comuns de serem encontrados em transportadoras, conforme o tipo de produto transportado.

Líquidos inflamáveis

Esses itens são caracterizados por combustíveis, como gasolina, álcool e óleo diesel. Os acidentes podem ser de alto risco, visto que podem ocorrer quando o material vaza e entra em contato com uma fonte de calor. Assim, essa combinação de oxigênio com o líquido inflamável e o calor é capaz de gerar uma combustão.

Gases

Essa categoria é muito suscetível a mudanças de pressão e temperatura, o que pode causar explosões. Além da instabilidade dessas substâncias, há também gases considerados tóxicos, como a amônia, que representam um risco para as pessoas se estiverem em um ambiente fechado.

Materiais corrosivos

Em geral, a categoria de ácidos tem alto potencial para causar danos. Dessa maneira, a manipulação de materiais corrosivos exige o uso adequado (e de acordo com as normas de equipamentos de segurança individuais) de recipientes e vestimentas para evitar o seu contato com a pele.

Substâncias tóxicas

Esse é o caso de materiais como lixo hospitalar, pesticidas e metais pesados. Os resíduos gerados por essas substâncias podem afetar principalmente o solo e a água, caso escapem da sua contenção ou sejam descartados incorretamente.

Prevenção e armazenagem adequadas

Com a relevância do planejamento e do transporte rodoviário correto de cargas perigosas, a atividade de armazenagem também inspira cuidados, tanto para classificar como para estocar esses produtos. Portanto, é fundamental considerar não só os critérios de segurança, como também as normas de saúde e preservação ambiental.

Abaixo, apresentamos algumas dicas para realizar o armazenamento da melhor forma e prevenir acidentes de trabalho.

Escolha embalagens adequadas

A primeira linha de proteção contra acidentes em depósitos é a adoção de embalagens para conter substâncias perigosas. Os produtos que se enquadram nas categorias de inflamáveis, oxidantes e corrosivos têm recipientes específicos, que são classificados em graus, como de baixo, médio e alto risco.

Os cilindros metálicos estão entre as opções mais utilizadas devido a sua capacidade de selagem e impermeabilidade. O ideal é que as embalagens não fiquem soltas ou empilhadas de forma desorganizada para evitar o seu tombamento. Os tanques também são utilizados para guarda de elementos líquidos, pois conseguem comportar grandes quantidades de produtos, superiores a 250 litros.

Mas atente-se para o fato de que, após a retirada dessas substâncias das embalagens e o encaminhamento para transporte, os recipientes devem passar por higienização rigorosa, pois podem estar contaminados com esses resíduos. Caso isso não seja possível, o descarte dos recipientes deverá ocorrer de forma segura.

Controle a iluminação do ambiente

Outro ponto a ser considerado em uma instalação que contém produtos perigosos é a iluminação do ambiente. Ela pode representar tanto uma vantagem como um potencial risco. Em resumo, o ambiente deve estar constantemente iluminado de forma adequada para viabilizar a adoção de medidas de emergência, mesmo no período noturno.

Contudo, esse é também um obstáculo para a manutenção da temperatura do local. Como mencionamos, os itens inflamáveis reagem ao calor, o que aumenta a chance de incêndios e explosões. Portanto, o gestor da área deve ser capaz de manter o equilíbrio entre essas duas variáveis e as controlar periodicamente.

Fique atento à circulação de pessoas no armazém

Uma das formas de garantir a conservação da carga é contar com a presença de pessoal qualificado para o seu manuseio e transporte. Além da segregação e da vedação das embalagens, é importante limitar o número de pessoas que tenham acesso ao local.

Esse tipo de trabalho requer diversos treinamentos que figuram desde a utilização de vestimenta de proteção até o conhecimento sobre os procedimentos em uma situação de emergência. Por isso, esteja atento à circulação de pessoas que não se enquadrem na categoria de profissionais treinados para esse fim.

Além disso, também é exigida a presença de bombeiros civis durante todos os turnos de trabalho, quando a transportadora atua com cargas perigosas. A quantidade de profissionais pode variar de acordo com o número de trabalhadores no armazém, a categoria do material e o porte do negócio. Verifique a exigência para a sua empresa!

Boas práticas para lidar com cargas perigosas

Sabendo dos riscos e os tipos de substâncias nocivas as quais sua equipe possa estar exposta, é hora de conhecer boas práticas para lidar com elas. Abaixo, listamos alguns exemplos para auxiliar o gestor na prevenção de acidentes.

Ofereça treinamentos aos profissionais envolvidos

O gestor deve entender que não é qualquer profissional que pode manusear cargas perigosas. Aos funcionários envolvidos diretamente com essas substâncias, é preciso oferecer treinamento certificado e mantê-los atualizados constantemente (por meio de cursos de reciclagem) para garantir segurança e responsabilidade aos processos.

Os cursos devem incluir aulas teóricas e práticas para que os trabalhadores consigam entender os riscos de lidar com produtos perigosos, conforme a legislação e normas vigentes. Além disso, eles devem ser capazes de realizar ações preventivas, conhecer a importância dos equipamentos de proteção individual e atuar em situações emergenciais.

A par dessas informações, é perceptível o cuidado com o armazenamento e a movimentação de artigos perigosos. Para evitar acidentes de trabalho e minimizar os riscos para seus funcionários e para o meio ambiente, mantenha sempre sua equipe qualificada. A propósito, ao ter um bom treinamento e prevenir contaminações ambientais, você fica em dia com as fiscalizações.

Tenha uma sinalização adequada

Os riscos de manusear substâncias nocivas à saúde humana devem estar sempre sinalizados de forma adequada. As embalagens, por exemplo, devem identificar claramente as características do item, como suas respectivas marcações e os símbolos de acordo com os riscos.

Os recipientes de armazenamento dos produtos, a área de estocagem e os veículos utilizados para seu transporte devem conter a descrição do tipo de material químico, segundo o que as normas brasileiras estabelecem, para o entendimento dos riscos por parte do pessoal.

Separe os produtos adequadamente

O tratamento dado ao armazenamento de produtos perigosos é bem diferente dos demais. Usar embalagens específicas para esses fins garante a completa vedação de líquidos e gases para evitar vazamentos. Por exemplo, materiais radioativos precisam ser mantidos em câmaras blindadas, sem contato com o ambiente externo.

Dessa forma, é muito importante separar os produtos adequadamente e, ainda, armazenar cargas perigosas em espaços protegidos, longe dos demais. Isso garante que apenas pessoas treinadas entrem no armazém, as quais sabem manuseá-los corretamente e com segurança. No caso dos veículos que realizam o transporte desses materiais, devem ser providenciados estacionamentos exclusivos.

Entenda quais são os documentos necessários

Se sua empresa trabalha com o transporte de cargas perigosas e, por consequência, armazena esses produtos em algum momento, você deve estar atento aos procedimentos burocráticos destinados a elas.

Como são complexos e oferecem riscos à população, cabe ao Estado regular esse tipo de atividade para minimizar e, no melhor cenário, evitar acidentes com esses itens. Por isso, a lista de documentação exigida para atuar no mercado é extensa e rigorosa. Confira os documentos que os colaboradores devem apresentar ao transportar esses artigos:

• declaração de carga emitida pelo expedidor, com a descrição completa e correta do item perigoso transportado;
• guia impresso que indique quais são os procedimentos de segurança mais indicados para cada tipo de situação, caso ocorra algum acidente,
• documento comprobatório de realização de Curso de Movimentação de Produtos Perigosos (MOPP) para o motorista;
• certificado de capacitação dos veículos e dos equipamentos de transporte de produtos perigosos a granel;
• documento de inspeção técnica veicular;
• documento fiscal do produto transportado, conforme o art. 22, II, do Regulamento de Transporte Terrestre de Produtos Perigosos;
• Manifesto de Transporte;
• Licença de transporte, que poder ser do estado ou município, a depender do caso;
• Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras — CTF-APP, emitido pelo IBAMA;
• comprovante de Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas — RNTRC, em acordo com Resolução 3056/2009 da ANTT;
• demais declarações, autorizações e licenças previstas.

O cuidado com o armazenamento de cargas perigosas é um requerimento legal para as empresas que atuam nesse setor. Contudo, essas regras podem se converter em uma vantagem competitiva para que o mercado perceba o compromisso da transportadora com a segurança e a proteção da natureza.

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